Adoro cozinhar! E nada melhor para agradar as visitas que um prato bem servido, sobretudo quando se tem todo tempo do mundo durante as férias. Sabendo eu que o maestro gosta de peixe, não fiz por menos ao convidá-lo para almoçar.
Culinária é uma arte! Vou postar aqui a receita desse muitíssimo simples "peixe com camarão": o ideal para as visitas mais exigentes!
Primeiramente precisamos escolher bem os ingredientes. Nada adianta fazer um prato requintado com ingredientes de segunda mão. A cozinha começa na feira, na escolha dos sabores, na textura do material que afinal será saboreado pelos ilustres. Certa vez lembro-me de uma amiga que comprava o pó-de-café mais caro do mercado. Fui sorver uma xícara do danado e, para minha surpresa estava péssimo! Ela usava uma água de qualidade lamentável e com isso desperdiçava o tão cobiçado pó-negro. Após este evento sempre cuidei com primor dos ingredientes e suas combinações.
Chega de papo, vamos para receita.
Num domingo ensolarado, ao lumiar da alvorada, saia em busca da matriz do prato: o peixe. Siga até o rio ou riacho que disponha de peixes poucos espinhentos com sua tralha de pesca e certifique-se de conseguir o suficiente para o preparo do prato. Tenha em mente que tilápias ou mesmo um bom pintado seria o ideal.
Uma vez que tenha-os em mãos, procure manter-los frescos em um samburá até chegar em sua cozinha, onde então serão cuidadosamente limpos e partidos em postas grandes, levemente salgados. Jamais use limão.
Com um velho pescador catarinense, consiga dois punhados de camarão rosa (congelado mesmo no caso de não habitar o litoral), lembre-se de evitar o sete barbas ou o miúdo. Tome cuidado para descongelar (se for o caso) de modo tranquilo. Microondas ou água corrente deixarão-os borrachudos.
Adquira na feira alhos e cebolas, tomates bem vermelhinhos, um maço de cebolinha verde e outro de almeirão. Certifique-se de ter uma farinha de boa moagem a disposição ou a receita ficará incompleta.
O preparo:
Amassados e picados, junte os alhos com a cebola fatiada na panela grande afim de doira-los por completo. Una nesta mistura os camarões e após um lapso de tempo, as postas do aquático. Sobre tudo, coloque carinhosamente os tomates em rodelinhas finas descascadas. A tampa deve ser usada neste momento e o fogo pode ser o equivalente ao dum moquém. Alguns minutos bastam para que tudo esteja nos conformes, ai então encorpa-se o caldo com açafrão, cebolinha picada a e pimenta que se prefira. Caiçaras usam alfavaca... não creio eu deter tamanha técnica. Permita ao fogo terminar o trabalho, então enfraqueça-o suficientemente para suster o calor sem mais adicionar sua força.
Na panela ao lado misture uma porção que baste da farinha fina com água fria, ao que acrescenta-se quatro ou seis colheres do caldo do peixe, mexe-se infindavelmente até ver-se alquimicamente formado o pirão.
Arroz branco bem temperado. Convém que seja feito ao tradicional.
Uma farofa de almeirão cortado finamente, refogado ao alho no azeite, com farinha de beiju, equilibra o doce do peixe com o amargor necessário da folha. Considero indispensável.
Não pode faltar cachaça nem lascas de queijo colonial para petiscar, ou a tentação tornar-se-a insuportável. Lá pelas duas ou três da tarde, assim que o pirão apurar e a visita reclamar pela décima terceira vez da demora, sirva a todos - no prato - panelas no fogão.
Os mais radicais considerariam-me herege por não preparar aipim feito guarnição... índios cozer-me-ião no próprio caldo por isso... mas justifico: as da feira vertiam mofo e lamentavelmente não consegui outra fonte confiável para adquiri-las.
Uma vez servido, com boa pimenta por perto e um saco da farinha, aguarde o suficiente...subverta a ansiedade por longos minutos até que, como numa mágica, ao findar do segundo ou terceiro prato, a visita exclame: "P...Q...P...Delícia!".
Considere feito.
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