domingo, 22 de março de 2009

Coração Selvagem


David Linch foi quem estimulou meu gosto atual pelo cinema. Através dum dos seus filmes passei a ver e compreender melhor a arte cinematográfica. Assim como em outros semelhantes, este trata de um humor negro, duma filmagem moderna que retrata situações contemporâneas através de sua complexa montagem e personagens.


Creio ter sido “Pulp Fiction” o primeiro filme nesse estilo que assisti, bem no ano de seu lançamento no Brasil. Tal como o filme de Tarantino, outros vários me fazem abrir uma nova chave - um novo gênero de cinema onde podemos englobar a arte que retrata desta forma o contexto imaginado pelos seus criadores. Neste novo gênero eu colocaria filmes como “Cruel Intenctions”, “Strange Days”, “Be Cool”, “Pulp Fiction”, “Coração Selvagem”, e outros que estão entre a categoria “policial” de “O Poderoso Chefão” e o verdadeiro “lado B” de “Spun” no quesito “representação dos tempos modernos”. Elementos da pós-modernidade são usados, bem como seus predecessores trans-modernos, mas eu jamais classificaria tal gênero como sendo efetivamente (como muitos críticos sugerem) “cinema pós-moderno”. Como é difícil compreender a contemporaneidade, deixemos tal preocupação para o futuro.
Percebemos neste modelo de cinema uma arte talhada com semelhança a fatos que levam o espectador a limites em vários fatores, mas sem exageros, onde existe ainda o herói, o bandido, a moça bonita e, sobretudo um “encaixe” das cenas que torna os fatos pesados e picantes ao mesmo tempo em que interessantes, críticos e filosóficos, numa certa “rebeldia e retratação” dos “tempos modernos”.
Em coração Selvagem David trabalha tonalidades quentes como o vermelho interagindo com marrons e dourados. Estas cores de “background” são muito importantes neste filme, pois notamos que a fotografia torna-se muito diferente de, por exemplo, “Gritos e Sussurros”, onde Bergman explora o vermelho e o branco (e com isso a nitidez).
O “ácido” da história esta em representar uma realidade contemporânea, quase pós-moderna, de depravação, falta de objetivos sociais, auto-estima, super confiança em si, uso de veículos para externar o tempo ocioso – como bebida, drogas, divagação, sexo, liberdade, onde o muro que divide o amor do crime e do ódio é um fio de cabelo, um estopim pronto a se acender. Podemos ver neste filme, tal como nos outros do gênero, um retrato social preciso, representado como um sonho, uma ebriedade comum a forma humana de pensar.
Em “Be Cool” a jogada é uma trama de mafiosos do cinema e da música; em “Cruel Intenctions” é o poder numa jogatina entre irmãos, mas em Coração Selvagem é simplesmente a vertigem de não se ter rumo, o que fica evidente quando o ator veste sua jaqueta de pele de cobra. O questionamento da situação homem x mulher é visto diversas vezes: quando ela percebe a preocupação dele no ato sexual; quando ela é violentada pelo assassino contratado, quando sua mãe joga com seus comparsas, quando ela não pode falar e escreve. No mais, a falta de materialidade se nota, sendo sufocada pelo prazer, e se evidencia quando ele diz ter US$40,00 para viver seu futuro.
A “sacada” do roteiro é justamente justificar momentos depois o “porque” das atitudes. Além disso, o estilo de David Lynch é realmente notável quando preenche cenas com situações inusitadas e personagens indecifráveis (como o que naturalmente limpa o carpe do hotel, como o negro no posto de gasolina...) que surgem por poucos segundos e desaparecem. Com isso o enredo se completa e as vagas idéias que nãos seriam percebidas pela platéia ficam mais fáceis de digerir.
Somando a tudo isso uma trilha sonora de se aplaudir comandada pelo gênio Ângelo Badallamenti com contribuição do próprio David Lynch, a arte se consuma. A meu ver Ângelo está no nível de Vângelis e é quase um “novo Henrry Mancini” da trilha-sonora cinematográfica. O uso, por exemplo, de “Wicked Game” na cena do carro é perfeito. A moça indignada exclama pra o radio tocar música (ou seja, chega de mídia inútil [rádio-sangue e tele-sangue, como digo] que apela para a violência para vender...) quando pulando fora do carro, o som magnífico da trilha de Ângelo resolve o problema a um pôr-do-sol magnífico, não sem ates um rock progressivo acalmar os ânimos.
Filmes que retratam um cinema contemporâneo com certa frieza e nudez inimagináveis, desta classe participa “Coração Selvagem”.

Sinópse: Lula Pace Fortune (Laura Dern) e seu amante, Sailor Ripley (Nicolas Cage), fogem pelas estradas que unem a Carolina do Norte ao Texas. Ela tem 20 anos e se descreve como "mais quente que o asfalto da Georgia". Ele é um jovem violento que estava preso por matar um homem e acaba de ganhar liberdade condicional. Ambos têm um passado conturbado, o que torna mais intensa a relação entre os dois. Possessiva e histérica, a mãe de Lula (Diane Ladd) jura que os dois nunca ficarão juntos e põe o detetive particular Johnnie Farragut (Harry Dean Stanton) e o gângster Santos (J.E. Freeman), seu amante, no encalço do casal.
Road movie com o toque surreal de David Lynch. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1990.

Baixe e Assista. (Torrent) Atualizado 01/2011



Um comentário:

M.Autóctone. disse...

Ola..

parabéns pelo post, e segue uma dica: O rapidshare.DE (não é o .com) comporta 300mb.
Espero que ajude. ;)

Abração.

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