Eis aqui duas obras complementares fascinantes do cineasta Linklater que me deixaram encantado. Um verdadeiro romance, uma linda e inteligente história em que são abordadas diversas questões sem perder o fóco romantico da situação. Excelentíssimo!
Trata-se da história de um rapaz que numa ocasião casual encontra-se com uma moça e seguem num passeio por Viena conversando sobre muitos assuntos, alguns cotidianos, outros mais sofisticados e filosóficos. O que temos aqui é um filme que consegue manter o seu sentido "arte" e a história romântica ao mesmo tempo em que nos faz refletir e nos deslumbra com momentos mágicos de músicas e paiságens, pequenas histórias cotidianas que acabam por "aconchegar" o espectador.
O primeiro filme data de 1995, e nele o diretor ja desenvolve temas que vai mais tarde esmiuçar em Walking Life (2001) como a morte, os relacionamentos amorosos, o sentido da vida, o amor, e o que parece ser o maior interesse: sonhos x realidade. O fato deste diálogo não ofuscar a história é algo realmente notável. Vemos dois jóvens passeando, dialogando constantemente e mesmo que o diálogo seja inteligentíssimo, não deixam de ser dois jóvens passeando.
Ao meu ver o grande "lance" do diretor foi conseguir uma sincronia incrível entre história e tempo que é raríssima. Mesmo grandes diretores fracassaram algumas vezes em conseguir isso, como por exemplo Michelangelo Antonioni em Zabriesk Point que, por mais que o filme seja ótimo, não obtem tal qualidade. Godard por outro lado deixa completamente a história de lado para desenvolver um diálogo, quase que um documentário em La Gai Savoir enquanto que Almodóvar facilmente se desprende da reflexão na maioria dos seus filmes dando lugar ao argumento.
Assim sendo, não vejo outro com quem comparar Link, mesmo tendo eu assistido somente a três de seus filmes, senão com Bergmann. Pode ser ousadia, mas acho que somente Bergman (e outros raros filmes isolados) conseguem este efeito: através de diálogos longuíssimos manter em fóco o som, a fotografia, a história do argumento. É tão raro e tão mágico quando acontece que, assim como quando ouço a 5 sinfonia de Tchaikowski, senti arrepios diversas vezes ao assistir este maravilhoso romance.
Assisti o segundo muito antes e achei uma obra maravilhosa, que trouxe ternura e espírito de vida ao meu coração, mesmo sem saber que a história tinha tido um início. Eis outra maravilha: podemos assistir ao segundo sem necessitar do primeiro, ambos são a mesma história, mas conseguem ser independentes.Quando terminaram o primeiro filme, os demais membros da equipe sentiram que deveriam dar uma continuação e durante nada menos que nove anos se corresponderam para resolver o que fariam. O resultado não poderia ser menos excelente. Outra "sacada" inteligente é que o segundo encontro do casal ocorre exatamente depois de nove anos, assim como em tempo real. A grande dificuldade de filmar antes do por do sol é que se tem pouco tempo e a história se dá em tempo real (1 minuto de filme = 1 minuto de tempo), mas a equipe já estava tão segura de sí que o fez em apenas quinze dias. Os atores então... sem palavras pra qualificar!
Uma obra admirável que guardarei eternamente na memória e voltarei a ver sempre que tentar desistir da paixão. Para tanto: Aplausos!
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