quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

História dos Irmãos Villas Boas - Manoel Rodrigues Ferreira

Na foto: Orlando, Manoel, Cláudio e Leonardo - Alto Xingu - 1948)

Manoel Rodrigues Ferreira (1916 - 2010) foi engenheiro, repórter, escritor e historiador, que tem entre suas obras a conhecidíssima "Ferrovia do Diabo" - história da Ferrovia Madeira Mamoré. Destacou-se por noticiar de maneira bastante convincente os processos do sertanismo no Brasil, tendo em 1945 seguido em pessoa para a região de onde partiu a expedição Roncador-Xingu, e de certo modo contribuindo muito para sua documentação com filmes, fotografias e reportagens. Este livro chamou-me a atenção pelo título, e vou tecer um breve comentário sobre ele baseado em minha impressão pessoal (não científica) do material.

O título é substancialmente chamativo, especialmente para aqueles que assim como eu interessam-se - e muito - pelo tema. Mas o livro não conta a história dos Irmãos Villas Boas: de modo algum! Conta talvez um pedacinho desta, e esclarece alguns pontos da Roncador-Xingu, mas deixa completamente a desejar como material histórico sobre estes personagens a que refere-se na capa. Trata-se sobretudo de um tipo de "pesquisa jornalística" ou crítica muito bem apessoada pelo Sr. Manoel (na foto ao lado) sobre o tema. 

Pesquisa jornalística porque é baseado quase que totalmente em matérias e publicações de jornais, revistas e similares. Crítica do Sr. Manoel porque este trata (como já indica no início do livro) de maneira pessoal o assunto, desde sua participação direta nos fatos, até sua opinião sobre acontecimentos e pessoas. Deste modo, ao mesmo tempo que me pareceu ser de extrema relevância pelo tema, o livro é um poço aberto a polêmica e refutação (daqueles que tenham versão contraditória ou fontes divergentes de Manoel). Quanto ao tema em geral, eu diria que faz menção aos seguintes pontos: 1. Expedição Roncador-Xingu; 2. Início da carreira dos Villas Boas; 3. Visão crítica sobre as pessoas de Orlando e Cláudio Villas Boas por parte do autor.

O livro divide-se em três partes pelo autor, mas estas não são nítidas e não enquadram bem seus objetos, fugindo ainda aos títulos a que se propõe. Os  subtítulos são mais eficientes. Quanto ao objeto do texto, vejamos minha opinião...

Num primeiro momento o texto destina-se a descrever o ingresso e progresso da expedição Roncador-Xingu. Traz menção a várias pessoas que dele participaram, trechos lindos de cartas e reportagens, e ainda algumas fotografias maravilhosas da década de 40. Ao mesmo tempo o autor inicia uma auto-bajulação (que vem a repetir-se por todo o livro), citando a si mesmo como feitor de "n" coisas. Isso logo de cara me chocou um pouco pois não compreendi qual a finalidade dele falar tanto sobre sí próprio...pareceu-me egoísta, prepotente e sobretudo estranho. Logo percebi que poderia (parece) que ele buscava créditos que talvez não tenha tido na época sobre seus feitos, agora de forma tardia, quase que como um apelo ao leitor para que seja indulgente com ele. Deus sabe as dificuldades que este homem teve na vida...por isso só digo o que me pareceu ser num primeiro momento.

Este início é ótimo como matéria de história, e traz momentos que realmente dão água na boca de tão maravilhosos. Neste capítulo primeiro, o autor dirige-se com certa neutralidade e amabilidade para com os Villas Boas (na foto ao lado).

É interessante notar que na pagina 140, como situação descritiva dos feitos do Instítuto Geográfico e do próprio Manoel quanto a nomeação ao Nobel dos Villas, parece surgir uma situação de amargo ressentimento que se mantém e agrava até o fim da obra. Chega a ser assustador para quem lê, e vou descrever um trecho:
"...Orlando Villas Boas não agradeceu de nenhuma forma tanto ao Instituto, como a mim e mais, quando informava pela imprensa quais entidades apoiavam a sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz, omitia ostensivamente o apoio do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo." (p.140)
Dai por diante o autor mostra um grande amargor e tece críticas pesadas aos Villas Boas, chegando mesmo a tentar desmoraliza-los e desacreditá-los a partir do 2 capítulo, quase que como um menino ressentido com um amigo que lhe deu as costas. Vou dar minha opinião depois sobre o caso. Antes vou transcrever outro trecho que demonstra essa atitude que menciono:
"[...] Essas afirmativas de Orlando Villas Boas revelam a sua personalidade de exclusivismo, que o faz referir tudo a si próprio, o que se denomina egocentrismo e egolatria." (p.171)
 Há uns momentos interessantes no final do livro em que ao autor faz menção as primeiras bandeiras e as vilas de São Vicente e Piratininga, que são bastante elucidadoras. Ainda vale a pena a crítica feita a constatação demográfica dos índios, quando a sua quantidade e aos anos iniciais da colonização, sendo informações que nos dão um ponto de olhar diverso aquele tradicional, e que parece bastante aceitável.

Quanto a questão Villas Boas, em primeiro lugar fica desnudo ao leitor que ao autor cabe muito bem o rótulo que este dá aos irmãos no ultimo paragrafo que transcrevi acima: busca para sí exclusivismos, como  por exemplo o de ter dado a ideia inicial para a fundação ou criação do parque indígena do Xingú, o de ter feito o primeiro longa metragem em cores do Brasil, o de suas obras serem um sucesso, o de ter fundado isso e aquilo, de suas reportagens serem as primeiras, as mais corretas etc, num auto-elogio que paira por toda a obra.
Por outro lado, esta crítica aos Villas Boas dá subsídios do tipo "ponta pé" para  aqueles que desejem refutar os Villas, em especial Orlando (na foto ao lado). Isso desperta certo interesse no final do livro.

Na minha opinião, Manoel não foi lúcido o suficiente (para não usar outro termo) nesta tentativa de desmerecer os Villas Boas. Ele exagerou em detalhes de reportagens dadas ao longo de 50 anos por eles, extraindo de uma ou outra contradições. Também parece ter esquecido do fato de que, diferente dele, os Villas passaram mais de 30 anos no mato, e em cargos de chefia... ambas as coisas embrutecem um homem para com a sociedade externa de modo que nem posso eu imaginar. Também notamos que as entrevistas  dos irmãos usadas para furtar-lhes honra na maioria são da década de 90, quando estes já tinham (tal como Manoel) mais de 70 anos de idade, e é comum as pessoas, mesmo as mais lúcidas e saudáveis, esquecerem um detalhe aqui, outro ali... trocarem um nome ou outro... essas coisas de ser humano que todos temos.

Concluindo, posso dizer que, extraída a auto-bajulação do autor, as informações gerais são ótimas. Algumas são claras como cristal, outras necessitam ser confrontadas com outras fontes de pesquisa antes de serem dadas como "verdades".

2 comentários:

Anônimo disse...

Seu comentário esclarece bastante o caminho traçado pelo autor no livro (bastante pessoal, diga-se), obrigado.

Anônimo disse...

Agradeço sua observação!

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