segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Seminarista- Bernardo Guimarães



O Seminarista é um livro pequeno com uma curta história e drama simples, mas torna-se interessante pela maneira como o mineiro o concebeu. Bernardo Guimarães traz a história do menino Eugênio e da moça Margarida, retratando o típico cenário interiorano dos idos de 1870. Neste livro ele usa uma forma peculiar onde inicia uma espécie de retratação que tende a poética seguindo-se de momentos de pura narrativa e contraponteando com interlocuções e interpelações, dirigindo-se as vezes diretamente ao leitor. Simplificando, podemos dizer que hora ele faz praticamente poesia, hora ele narra uma história e hora a história conta-se ao acontecer.


O mineiro usa ainda um vocabulário dado de sua época e me surpreendi muito em ver que este livro esta sempre nas cabeças dos títulos para vestibular, mesmo contendo um vocábulo extremamente distante do que um jovem hoje pode vir a achar "plausível". Eu mesmo com o habito da leitura a décadas confesso que tive dificuldade em entender a grandiosa gama de palavras usadas e expressões do século passado. Certamente se eu tivesse lá minha idade escolar e fosse ler "O Seminarista", por certo pegaria desgosto muito mais que gosto, e fica minha dica aos mestres que tenham cuidado com o que indicam para os jovens, e que certamente não se pode incluir este livro. Para os letrados de décadas ou viciados, ler uma obra tão bem concebida é uma fonte inexpugnável de prazer, muito mais que recomendado.

Lindíssima sintaxe do nobre mineiro, no pequeno trecho que cá descrevo:

"O dia levantou-se cheio de serenidade e esplendor. O sol que surgia por detrás das colinas do levante coroadas de arvoredos, brilhando através da ramagem, orlava o horizonte como de uma rede de ouro. Do lado fronteiro, em uma encosta longínqua, os troncos vetustos, que o machado respeitou aqui e acolá no meio de um vasto roçado, verberados pelos primeiros raios do sol pareciam colunas de bronze, que ficaram em pé no meio dos escombros de um templo derruído. Vapores diáfanos coloridos pelos fogos da aurora, erguendo-se da valada e despregando-se das colinas, dispersavam-se nos ares como pétalas de rosa que uma virgem desfolhasse às brisas da manhã. Os arbustos da vargem recamados de flores balanceavam-se brandamente ao sopro das aragens, e sacudindo da copa orvalhada uma chuva de pérolas abandonavam às auroras matinais as primícias de seus perfumes. Bandos de papagaios e periquitos garrulando alegremente atravessavam o espaço azul como nuvens de folhas verdes levadas pelo vento. Em derredor da casa também tudo era vida, prazer e animação. Tudo acordava pulando de alegria e de amor ao primeiro beijo do sol esplêndido do céu americano. Cada árvore era uma orquestra de pios, trinados e gorjeios, onde o sabiá, o gaturamo, o pintassilgo e outros mil passarinhos pareciam disputar entre si a palma da harmonia."

Baixar e ler "O Seminarista" de Bernardo Guimarães

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