Tudo começou no fim da primavera de 2006, quando eu dirigia, retornando de Cambé a Curitiba junto a três grandes amigos num dia de natureza amedrontadora em que a estrada tornou-se um obstáculo quase intrasponível. Foi a primeira e única vez na vida que ví dois arco-íris radiarem ao mesmo tempo.
Minha concentração na dificil visibilidade entre chuvas e sois, ventos e poças d'água, caminhões e curvas subitas foi tamanha que consigo lembrar de trechos de diálogo seguidos de mais de 15 minutos. Interessante que nossa concentração, mesmo dirigida para um fator - no caso a estrada - acaba por assumir o todo. Talvés por isso seja tão complexo e doloroso o ato de concentrar-se.
Minha dificuldade para guiar era compartilhada pelos colegas que, embora sem nada dizer durante a jornada, permitiam-me sentir o tremor de seus ossos e deixavam vazar seus pensamentos clamantes por proteção. Creio ter sido isso em maior parte que fez com que conversassem comigo incessantemente por todo o percurso (para me manter sóbrio?). Entre os temas, dado momento surgiu o "cinema".
Meu interesse por cinema era nulo, e teatro eu desaprovava publicamente até então. Recentemente havia visto um filme do Bergman (Luz de Inverno) que me despertara para um vago "talvés eu até goste" quanto a tal forma de arte. Neste interim da conversa, uma amiga partiu um singelo pedaço de papel e nele escreveu alguns títulos de filmes que deveriamos ver (DogVille, Intácto, Cidade dos Sonhos e Apaixonado Thomas).
Já em segurança no lar, com uma noite florescendo e os musculos rígidos como vigas de concreto (dado a tensão da direção), fui direto a locadora antes de casa. Lá retirei dois dos sugeridos. Ao assistir o primeiro, estupefato, entendi que recebi uma dádiva! "Enfim o cinema tem algo bom!" e hoje coloco este filme como meu despertar para "A 7ª Arte", do qual ainda um dia tecerei comentários aqui. O outro foi DogVille que, mesmo não tendo eu o hábito naquele momento de copiar filmes, o fiz pois senti que não tinha degustado de tudo ainda, deixando para posteridade tal empreitada. Hoje, graças a um pedaço de papel borrado pelas curvas do carro e pela generosidade de uma amiga, tenho mais de 150 títulos ocupando espaço nas minhas estantes...e - por sorte - na minha mente.
O inveno no sul-do-mundo para mim é a estação mais agradável. Longos dias de sol e brisa fresca que nos convidam a tomar as ruas, praticar exercícios, contemplar: sem assar, fritar ou suar como uma lesma. Ademais, para quem tem pressão baixa como eu, temperaturas acima dos 25º são uma ressaca constante. Neste ano resolvi que passaria minhas tardes no Jardim (Botânico) de casa e lá realizaria tudo o que pudesse junto ao adorável aquecer do sol.
Muitos amigos fiz, muitas coisas observei, fotografei, estudei, contemplei e sobretudo amei o sol e por ele fui amado. Destes dias resultarem duas músicas lindas, poemas encantados, centenas de fotos e vídeos deliciosos, e o nascimento de uma paixão pela naturialidade que, se eu já tinha, se aguçou mil vezes.
Dado dia, ao retornar, findando a leitura de um livro, chocaram-se meus olhos com o título até então perdido nas profundezas da prateleira: "O Sol é Para Todos". O admirirei um pouco e corri para escrever a um amigo sobre meu achado. Li algumas páginas como de costume para adentrar a história, e no terceiro dia fui a web saber mais sobre a autora (como costumo fazer).
Harper Lee nasceu em 1926 no Alabama, e a história do livro parece mesmo ser sobre sua infância naqueles tempos. A autora fez pouquissimas obras (umas três ou quatro) até hoje, e de início fiquei a me perguntar "porque?". De igual modo ví que ela é uma celebridade influente e respeitada no meio da literatura e da sociedade mundial em geral. Foi preciso concluir a leitura para saber o que de fato acontece, e sendo assim, quem quiser saber deve buscar tal obra.
No princípio me desiludi. Demorei umas 3 semanas para chegar ao meio do livro que era interessante, mas até então não tocava no assunto que eu queria: "O Sol". Logo pensei no título original: "To Kill a Mockingbird" (Para Matar um Pássaro-Imitador) e pela primeira vez, hoje, ao concluir a leitura, acho que o título em protuguês é melhor que o original.
Certo dia pela manhã acordei e liguei a TV afim de despertar lentamente com os bérros insuportáveis dos desenhos animados da atualidade, mas correndo os canais deparei-me com um debate... sobre o livro "O Sol é Para Todos". Estava pelo fim, e passava na TV Justiça. Pela noite retomando a rotina mas cansado para ler, fui a estante dos filmes, onde me chamou como que magnéticamente o titulo "DogVille", que tornei a ver, assistindo ainda o doc-making-off sobre o mesmo na sequência.
Bem, posso afirmar com certeza que Lars Von Trier colheu argumentos da Harper Lee, ou do filme lançado sobre o título mesmo do livro e fez, mesmo com sua maneira particular de cinema, uma obra de qualidade admirável. O filme é muito bom, trata de assuntos humanos com uma forma digna de um mestre em história, vida e arte.
Quanto ao livro, dificilmente dou nota máxima para alguma coisa, mas neste sou forçado a fazer isso: 10!. Simplesmente genial, artístico, lúdico, romântico, real, nobre e hipócrita. Reune tudo de forma espetácular.
Tenho que agradecer a Harper Lee por tamanha contribuição a humanidade, e igualmente a Lars Von Trier por, mesmo não intencionalmente, dar-nos uma re-leitura sobre o assunto. Aconselho a todos e a mim mesmo tornar a ter com tais obras. Sem links para download, pois obras tão boas devem ser adquiridas.
O livro ainda me trouxe outra reflexão...mas vou deixar para "O Livro das Reflexões".
Minha concentração na dificil visibilidade entre chuvas e sois, ventos e poças d'água, caminhões e curvas subitas foi tamanha que consigo lembrar de trechos de diálogo seguidos de mais de 15 minutos. Interessante que nossa concentração, mesmo dirigida para um fator - no caso a estrada - acaba por assumir o todo. Talvés por isso seja tão complexo e doloroso o ato de concentrar-se.
Minha dificuldade para guiar era compartilhada pelos colegas que, embora sem nada dizer durante a jornada, permitiam-me sentir o tremor de seus ossos e deixavam vazar seus pensamentos clamantes por proteção. Creio ter sido isso em maior parte que fez com que conversassem comigo incessantemente por todo o percurso (para me manter sóbrio?). Entre os temas, dado momento surgiu o "cinema".
Meu interesse por cinema era nulo, e teatro eu desaprovava publicamente até então. Recentemente havia visto um filme do Bergman (Luz de Inverno) que me despertara para um vago "talvés eu até goste" quanto a tal forma de arte. Neste interim da conversa, uma amiga partiu um singelo pedaço de papel e nele escreveu alguns títulos de filmes que deveriamos ver (DogVille, Intácto, Cidade dos Sonhos e Apaixonado Thomas).
Já em segurança no lar, com uma noite florescendo e os musculos rígidos como vigas de concreto (dado a tensão da direção), fui direto a locadora antes de casa. Lá retirei dois dos sugeridos. Ao assistir o primeiro, estupefato, entendi que recebi uma dádiva! "Enfim o cinema tem algo bom!" e hoje coloco este filme como meu despertar para "A 7ª Arte", do qual ainda um dia tecerei comentários aqui. O outro foi DogVille que, mesmo não tendo eu o hábito naquele momento de copiar filmes, o fiz pois senti que não tinha degustado de tudo ainda, deixando para posteridade tal empreitada. Hoje, graças a um pedaço de papel borrado pelas curvas do carro e pela generosidade de uma amiga, tenho mais de 150 títulos ocupando espaço nas minhas estantes...e - por sorte - na minha mente.
O inveno no sul-do-mundo para mim é a estação mais agradável. Longos dias de sol e brisa fresca que nos convidam a tomar as ruas, praticar exercícios, contemplar: sem assar, fritar ou suar como uma lesma. Ademais, para quem tem pressão baixa como eu, temperaturas acima dos 25º são uma ressaca constante. Neste ano resolvi que passaria minhas tardes no Jardim (Botânico) de casa e lá realizaria tudo o que pudesse junto ao adorável aquecer do sol.
Muitos amigos fiz, muitas coisas observei, fotografei, estudei, contemplei e sobretudo amei o sol e por ele fui amado. Destes dias resultarem duas músicas lindas, poemas encantados, centenas de fotos e vídeos deliciosos, e o nascimento de uma paixão pela naturialidade que, se eu já tinha, se aguçou mil vezes.
Dado dia, ao retornar, findando a leitura de um livro, chocaram-se meus olhos com o título até então perdido nas profundezas da prateleira: "O Sol é Para Todos". O admirirei um pouco e corri para escrever a um amigo sobre meu achado. Li algumas páginas como de costume para adentrar a história, e no terceiro dia fui a web saber mais sobre a autora (como costumo fazer).
Harper Lee nasceu em 1926 no Alabama, e a história do livro parece mesmo ser sobre sua infância naqueles tempos. A autora fez pouquissimas obras (umas três ou quatro) até hoje, e de início fiquei a me perguntar "porque?". De igual modo ví que ela é uma celebridade influente e respeitada no meio da literatura e da sociedade mundial em geral. Foi preciso concluir a leitura para saber o que de fato acontece, e sendo assim, quem quiser saber deve buscar tal obra.
No princípio me desiludi. Demorei umas 3 semanas para chegar ao meio do livro que era interessante, mas até então não tocava no assunto que eu queria: "O Sol". Logo pensei no título original: "To Kill a Mockingbird" (Para Matar um Pássaro-Imitador) e pela primeira vez, hoje, ao concluir a leitura, acho que o título em protuguês é melhor que o original.
Certo dia pela manhã acordei e liguei a TV afim de despertar lentamente com os bérros insuportáveis dos desenhos animados da atualidade, mas correndo os canais deparei-me com um debate... sobre o livro "O Sol é Para Todos". Estava pelo fim, e passava na TV Justiça. Pela noite retomando a rotina mas cansado para ler, fui a estante dos filmes, onde me chamou como que magnéticamente o titulo "DogVille", que tornei a ver, assistindo ainda o doc-making-off sobre o mesmo na sequência.
Bem, posso afirmar com certeza que Lars Von Trier colheu argumentos da Harper Lee, ou do filme lançado sobre o título mesmo do livro e fez, mesmo com sua maneira particular de cinema, uma obra de qualidade admirável. O filme é muito bom, trata de assuntos humanos com uma forma digna de um mestre em história, vida e arte.
Quanto ao livro, dificilmente dou nota máxima para alguma coisa, mas neste sou forçado a fazer isso: 10!. Simplesmente genial, artístico, lúdico, romântico, real, nobre e hipócrita. Reune tudo de forma espetácular.
Tenho que agradecer a Harper Lee por tamanha contribuição a humanidade, e igualmente a Lars Von Trier por, mesmo não intencionalmente, dar-nos uma re-leitura sobre o assunto. Aconselho a todos e a mim mesmo tornar a ter com tais obras. Sem links para download, pois obras tão boas devem ser adquiridas.
O livro ainda me trouxe outra reflexão...mas vou deixar para "O Livro das Reflexões".
2 comentários:
Ola meu caro,
Excelente critica e escrevendo com uma bonita maturidade, parabéns pelo texto.
Forte abraço,
M.Autóctone
Grato como sempre pela observação!
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